História do Coveiro Raimundo
COVEIRO RAIMUNDO
Fernanda Munhão
No tempo em que o mundo era mundo, havia o coveiro Raimundo. Cadavérico, Raimundo cochilava no cemitério:
Raimundo, Raimundo!
Levanta, vagabundo.
Raimundo, Raimundo!
Chegou mais um defunto.
Até as caveiras já o conheciam e instintivamente repetiam:
Raimundo, Raimundo!
Levanta, vagabundo.
Raimundo, Raimundo!
Chegou mais um defunto.
Mas um belo dia, tudo aconteceu. Inevitavelmente, Raimundo morreu:
Bem-vindo, bem-vindo!
Bem-vindo, Raimundo.
Bem-vindo, bem-vindo!
Chegaste ao nosso mundo.
E no cemitério, Raimundo enturmou-se e até pela sua vizinha apaixonou-se. Era uma caveira alta e desdentada, que por Raimundo ficou louca e encantada.
Raimundo, Raimundo!
Seu olhar é tão profundo.
Raimundo, Raimundo!
Bem-vindo ao nosso mundo.
E com a tal caveira, que era uma gracinha, Raimundo teve as suas caveirinhas.
- Mamãe, mamãe! Eu quero mamadeira!
E a mãe:
Não chateia, não chateia!
Não tenho peito, sou caveira.